quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Refresco é pimenta em nossos olhos

Tenho duas amigas de infância com quem sempre converso e inevitavelmente lembramos de ~onde viemos~ e o contexto em que vivíamos. Hoje, cada uma seguiu um caminho. Não muito estabelecido...Vem sendo construído. E quando a gente se junta, nos transportamos para um ambiente extremamente honesto, que não encontro em qualquer outro lugar. Mas sempre me pego tentando recriar esse espaço em que a gente pode ser completamente franco. Super me frustro, né?

Nós, eu e minhas amigas, desde cedo soubemos o que era ter problemas; nós crescemos no meio de problemas e limitações, não dos mais graves, e não dos mais suaves. Vivíamos sempre pulando obstáculos ainda que nenhum catastrófico, graças a Deus. Sempre víamos nossa família, em especial nossas mães, sozinhas e quietas, lidando com uma rotina tão difícil, com uma história tão pesada.

Isso fez com que a gente se acostumasse com altos e baixos: não é o fim do mundo quando precisamos lidar com desafios e não deixar que ninguém perceba que não está tudo a mil maravilhas em nossa vida. E não é necessário uma performance. Acho que é onde melhor empregamos nossa maturidade; sabemos que problemas existem e tivemos que aprender a tocar a vida em meio a eles da melhor maneira possível.

O desafio comum que enfrentamos hoje em dia, depois que crescemos e começamos a tocar nossa vida - ainda que cambaleando - é lidar com pessoas que não fazem a menor ideia do que é ter problemas de verdade.

Eu me pego, no meu dia a dia, vendo pessoas terem uma verdadeira dor de cabeça ou se fecharem numa cara de bosta de dar inveja ao Levy Fidelix, simplesmente porque a empregada pediu as contas, porque tá sem namorado há x meses, porque o carro deu problema, porque não conseguiram ser o centro das atenções full time, porque o mundo não se adaptou as suas vontades e vaidades.

O que eu gostaria que alguns soubessem é que essas coisas não são problemas. Eu gostaria que esses alguns entendessem que são muto privilegiados e deveriam agradecer, quem sabe com um pouco mais de estabilidade.

Lido com pessoas que têm tudo o que minha família e amigos sempre sonharam ter, mas estão sempre insatisfeitos. O que me dá muita pena! Poxa, não precisa quicar de felicidade, afinal cada um tem uma maneira de sentir as coisas, mas pelo menos fica de boa. Tão aí bem, conquistando as coisas e tal.  Isso tudo é muito valioso!

Sempre lembro de uma amiga me contando que quando ela estava perdendo a mãe com um câncer e sem a menor condição de cuidar ou dar um pouco de dignidade para essa mãe, as pessoas do convívio ainda assim vinham chorar pequenezas pra ela. E ela escutava pensando em sua própria situação e tentando evitar comparar a gravidade das situações.

Eu acho que tenho muito a agradecer, mas não percebo. Eu reclamo e brigo pelas coisas, e isso pode ser sim chato às vezes, mas não penso que tenho problemas. Penso que tenho muitos desafios e um histórico. Eu tenho história que prefiro compartilhar com quem tem história.

Eu gostaria de conviver bem com as pessoas rasas e cronicamente insatisfeitas, mas tem dia que a cara de paisagem tão amiga e conhecida não sustenta tanto vitimismo sem razão.

Vocês estão bem. Fiquem bem. Aprendam a ser resilientes.