Um risco de sempre lutar por algo é que ao avaliar nossos esforços, especialmente se eles nos custaram algo, entramos numa síndrome de fazer justiça a nós mesmos a qualquer custo. Às vezes fazemos justiça inadmitindo comportamentos e condutas vindos de outras pessoas, o que pode ser também uma fragilidade.
Eu acabo usando a balança da justiça muitas vezes na minha vida. Meu pai inclusive queria que eu fosse juíza...Deveria ter seguido esse caminho. Quem sabe usaria o apurado senso crítico para punir ou absolver casos e pessoas que não me dizem respeito e, logo, não seriam afetadas por um julgamento parcial afetado por alguns sentimentos feridos.
Mas o justo e o injusto acabaram por fazer parte de minha história. A consequência de cada sentença também. Injustiças me chocam muito e penso que a existência delas em um passado recente serviu para que eu tivesse responsabilidade e cuidado ao fazer julgamentos.
Ultimamente ando tentando usar esse cuidado para colocar na balança quem são os amigos de verdade, sem ser radical. Eles existem? São fiéis? Devem permanecer? É difícil escolher uma sentença para alguém que carregou uma parte de sua história.
O que mais me fadou ao distanciamento de pessoas queridas é aquele velho e conhecido vilão do casamento: você foi e ele ficou. Você descobriu novas músicas, novos lugares, novos sonhos e eles pararam nas lembranças antigas que são o único fio que mantém vocês ligados. E por vezes a gente abusa da cara de paisagem para conseguir levar adiante uma conversa sem pensar: " Porra, passaram anos e eles não saíram do mesmo lugar!".
Outro ponto preocupante são aquelas amizades que só podem partilhar miséria. Ou você ou ela(e) tem de estar devastados e frustrados para que haja uma conexão. Daí de repente você (ou eles) encontra uma cura e a amizade, ou reconhecimento no caso, não encontra mais base para se apoiar.
Mas o que mais pega na hora de manter a classificação de amigo (ao invés de simples colega) é não encontrar mais correspondência de admiração. Existe sentimento, saudades, continuam a te fazer rir, mas aqueles velhos hábitos e a confirmação de uma suposição acabam sendo muito simbólicos dependendo da fase de vida em que você se encontra.
Você avalia e critica silenciosamente todas as contradições que são esfregadas em sua cara. Interesses escusos identificados quando você sente que um encontro qualquer é motivado por algum benefício em que a outra parte tem de lucrar; abusos, já que a amizade pode ser usada para te poupar esforços ou gastos - aquela amizade que nasceu motivada por uma carona diária e sempre irá exigir um cachê, quem não conhece?-; falta de noção ou incapacidade de se colocar no lugar do outro; vontade de ser o outro; amizades motivadas apenas pela possibilidade de uma troca romântica que exposta a uma rejeição pode virar inimizade; e por vezes, até a inveja também povoam as amizades ... ou a ilusão delas.
Outras vezes nossa própria motivação é egoísta e não percebemos que ficamos sempre no raso já que as duas partes não querem ceder e se doar para pessoas que não estão ao lado delas de verdade.
Qual é a solução justa? Enterrar de vez o que parece ser mentiroso ou dar chances para mais uma rehab, em que a cura é aceitar que existem coisas nocivas mas que podemos e devemos nunca olhar pra isso?
Talvez o melhor seja mesmo não ver demais.